segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Mimimização do corpo

Gente, vamos combinar uma coisa? Todo mundo aqui tem corpo, certo? O seu, né? Ok, comecemos daí então. Eu tenho meu corpo, e quem o habita sou exclusivamente eu. Só eu sei como é perceber o mundo através dele e só eu posso saber. Ele me pertence e eu pertenço a ele.
Esclarecido isso, quero expor minha indignação acerca da repulsa a tudo aquilo que envolve o corpo humano. Se todo mundo aqui é humano, e todo mundo tem corpo, por que é algo assim tão "tabulizado"? Eu já acho muito estranho que tenha aflição em ver sangue, porque é algo que corre nas minhas veias, essencial pra minha sobrevivência, mas por algum motivo meu organismo de defesa decidiu me proteger disso me fazendo passar mal sempre que vejo qualquer tipo de ferimento. Enfim, não é disso que eu falo, é sobre a mimimização dos fatos.

Mimimizar : v.t.d. 1. Ato de exagerar, supervalorizar ou dar proporções problemáticas a um fato ou situação simples. 2. Transformar em algo socialmente inaceitável, visto como incomum ou desrespeitoso. 3. Verbo correspondente ao substantivo "frescura".

Agora pensa, se o corpo é seu e você está contido nele, por que é que você não pode conhecê-lo? Achá-lo belo? Entregar ele pra alguém? Sem ele, você não experimentaria o mundo de forma sensível. Eu tenho achado bem tola essa separação de que mente/alma é a pureza, a sensibilidade e a razão, enquanto que o físico é o sujo, o brutal e inconsciente. Por que analisar separadamente se ambos trabalham em conjunto? A mente está conectada ao corpo, recebendo e processando informações captadas por esse. Ela pode ter pensamentos sujos, brutais e inconscientes, da mesma forma como o corpo é capaz de sentir aquilo que é puro, suave e correto. Quando se experimenta a sensação de uma carícia, por exemplo, é o corpo quem contribui para o entendimento do que é afeto, coisa que puramente idealizada não passaria de teorias frias, dados de uma máquina feita pra registrar, não descobrir.
E se o corpo pode experimentar tanta coisa, por que insistem em vê-lo como puro objeto sexual? O corpo sente calor, então você vai lá e veste ele com uma roupa curta, pra sentir o frescor do vento. Como interpretam isso? "De forma alguma! Mas que pouca vergonha!", " Conotação sexual!", "Tá pedindo, isso sim".
Por que todas as necessidades físicas passaram a se resumir em sexo? E no caso de ser sexo, qual é o problema? Se a pessoa, dona do corpo, realmente quer, ótimo. Ela vai pra cama com quem quiser, quantas vezes quiser, do jeito que quiser. Quem dita as regras sobre isso é quem realmente está envolvido no ato, que, aliás, é algo completamente natural, não tem nada de errado em falar sobre isso.
Pode até ser que o gênio maligno de Descartes esteja atuando sobre nós e tudo isso que pensamos sentir seja pura ilusão, mas ainda que ilusão, é aquilo de mais concreto que temos para nos agarrarmos. Até porque se vivemos numa ilusão, a ilusão em si passa a ser nossa realidade, então antes aceitar uma percepção meio errada à qual temos alcance do que negá-la e descartar qualquer possibilidade de experimentar aquilo que nos cerca. Se você quer se privar de tais experiências, ótimo, é livre para fazer o que bem entender consigo mesmo. Mas não mimimize o corpo que não te pertence.

Laryssa

3 comentários:

  1. *clap clap clap* (é a julia aqui)

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  2. A ideia mudou, mas o comportamento ainda corresponde ao de 50 anos atrás. Parabéns dona Laryssa, expresse suas opiniões, para quem sabe plantar a semente da dúvida na cabeça de quem ainda não consegue pensar por si próprio.

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