One Punch Man, cujo autor utiliza do pseudônimo ONE, começou como uma webcomic (HQ disponível na web) japonesa em 2009. Hoje conta também com um mangá e um anime. Nessa resenha, irei focar no anime, pois foi o que vi por completo. Ele possui 12 episódios de aproximadamente 24 minutos cada, e mais dois OVAs (Original Video Animation). A trama gira em torno de Saitama, o homem mais forte do mundo, que enfrenta diariamente vilões que incomodam as redondezas - quando não está assistindo TV, é claro. A história tem muita ação, seres sobrenaturais e explosões, mas sua principal raiz é a comédia, e isso explicarei melhor no próximo tópico.
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Se tem uma coisa que esse anime é, é uma constante sátira. Para começar, o personagem principal é uma afronta aos modelos comuns de heróis que vemos por aí - principalmente se tratando da cultura japonesa. Careca; nem gordo, nem magro; nem musculoso, nem magricelo; com poucos detalhes, Saitama é um cara tão comum que chega a ser monótono (o que fica bem evidente na sua expressão facial). Diferente dos demais guerreiros, sua vida não é recheada de emocionantes aventuras. É, na verdade, como a vida de qualquer um de nós: uma ida ao mercadinho, um momento vendo TV, uma soneca, uma refeição, limpeza doméstica. Seus heroísmos são só tidos como hobby.
Apesar disso, Saitama é um rapaz de forças inigualáveis. E é aí que entra mais uma sátira ao modelo comum de heróis. Sua força é tão exaltada, que quando assistimos a uma batalha em um filme, série ou desenho, já sabemos que o inimigo não será páreo para o protagonista, mas este, por sua vez, dá tudo de si como se aquele fosse ser seu último conflito, o que nos dá emoção e coloca em dúvida a vitória do mocinho. Em One Punch Man, temos certeza de que todo e qualquer um que se puser diante de Saitama perecerá com um só golpe, e ele também tem consciência disso. O espectador ouve monstros gigantes anunciarem seu temível poder já tendo em mente que serão rapidamente derrotados por Saitama, um carinha com expressão de tédio. A obviedade se choca com a tentativa de mascarar a vitória fácil sobre o inimigo, que já virou praxe no gênero da ação, gerando uma estranheza cômica.
Além disso, o nome abreviado para a série é Wanpanman, o que deixa claro que é uma sátira ao anime infantil mais famoso no Japão denominado Anpanman, cujo personagem principal tem a cor da roupa invertido, e claro, um rosto exageradamente sorridente. Ah, momento curiosidade: anpan é esse doce japonês da foto.

Para dar início às reflexões, peço que leiam as seguintes páginas do mangá de One Punch Man, onde Saitama fala sobre como é ser extremamente poderoso.
(Para quem não sabe, essa é a ordem correta para a leitura de mangás)
A partir dessa declaração, podemos notar que o poder inibe a emoção. No caso de Saitama, ele aprimorou-se tanto na arte do combate que tornou-se não somente invencível, mas também poderoso o suficiente para não precisar fazer uso de todo o seu poder. Não tendo que doar-se por completo no campo de batalha em busca da vitória, esvaiu-se o prazer de lutar. Essa situação me leva a pensar: de que serve a perfeição, se não para que a busquemos incessantemente, sem nunca realmente atingi-la? As forças inigualáveis do herói se fazem inúteis diante de inimigos tão fracos, e dessa forma não é necessário esforço algum. Sem esforço, sem risco, sem o imprevisível, morre também o deleite em prosseguir. Ser um exímio lutador não ultrapassa o gosto de poder superar um obstáculo com fervor, superando assim a si mesmo.
Ainda que anestesiado emocionalmente durante uma batalha, Saitama não deixa de ter sentimentos e atitudes humanas, e está sempre exposto ao erro. Acho que serve como um aviso: um humano é sempre um humano, por mais que se aperfeiçoe (em outras palavras: você pode ser incrível o que for, vai sempre fazer merda).
Nosso grande herói careca é, ainda que um tanto indiferente, um jovem virtuoso. Como dito no mangá, a justiça o satisfaz, e o heroísmo em anonimato não é visto como problema por ele. Ele não faz o que faz para agradar ninguém. Por outro lado, a grande maioria dos heróis registrados se mostra interessada na aprovação popular, dando a falsa impressão de pensarem no bem-estar do próximo mais do que Saitama, que age pelo bem-estar próprio. Ou seja, Saitama se satisfaz com a justiça, mesmo que para isso deva ignorar a aprovação ou não popular, enquanto os demais se satisfazem com a aprovação popular, nem que para alcançá-la devam usar de meios injustos. Quem é o verdadeiro egoísta nessa história, afinal?
Laryssa
P.S. comentários sempre abertos e disponíveis para mais reflexões <3 be free
P.S.² parece que "Laryssa" é a resposta hasuashas "Quem é o verdadeiro egoísta nessa história, afinal?/ Laryssa". Eu ia mudar, mas não. Sou egoísta mesmo...
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