quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

One Punch Man




One Punch Man, cujo autor utiliza do pseudônimo ONE, começou como uma webcomic (HQ disponível na web) japonesa em 2009. Hoje conta também com um mangá e um anime. Nessa resenha, irei focar no anime, pois foi o que vi por completo. Ele possui 12 episódios de aproximadamente 24 minutos cada, e mais dois OVAs (Original Video Animation). A trama gira em torno de Saitama, o homem mais forte do mundo, que enfrenta diariamente vilões que incomodam as redondezas - quando não está assistindo TV, é claro. A história tem muita ação, seres sobrenaturais e explosões, mas sua principal raiz é a comédia, e isso explicarei melhor no próximo tópico.


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Se tem uma coisa que esse anime é, é uma constante sátira. Para começar, o personagem principal é uma afronta aos modelos comuns de heróis que vemos por aí - principalmente se tratando da cultura japonesa. Careca; nem gordo, nem magro; nem musculoso, nem magricelo; com poucos detalhes, Saitama é um cara tão comum que chega a ser monótono (o que fica bem evidente na sua expressão facial). Diferente dos demais guerreiros, sua vida não é recheada de emocionantes aventuras. É, na verdade, como a vida de qualquer um de nós: uma ida ao mercadinho, um momento vendo TV, uma soneca, uma refeição, limpeza doméstica. Seus heroísmos são só tidos como hobby. 
Apesar disso, Saitama é um rapaz de forças inigualáveis. E é aí que entra mais uma sátira ao modelo comum de heróis. Sua força é tão exaltada, que quando assistimos a uma batalha em um filme, série ou desenho, já sabemos que o inimigo não será páreo para o protagonista, mas este, por sua vez, dá tudo de si como se aquele fosse ser seu último conflito, o que nos dá emoção e coloca em dúvida a vitória do mocinho. Em One Punch Man, temos certeza de que todo e qualquer um que se puser diante de Saitama perecerá com um só golpe, e ele também tem consciência disso. O espectador ouve monstros gigantes anunciarem seu temível poder já tendo em mente que serão rapidamente derrotados por Saitama, um carinha com expressão de tédio. A obviedade se choca com a tentativa de mascarar a vitória fácil sobre o inimigo, que já virou praxe no gênero da ação, gerando uma estranheza cômica.
Além disso, o nome abreviado para a série é Wanpanman, o que deixa claro que é uma sátira ao anime infantil mais famoso no Japão denominado Anpanman, cujo personagem principal tem a cor da roupa invertido, e claro, um rosto exageradamente sorridente. Ah, momento curiosidade: anpan é esse doce japonês da foto.


Para dar início às reflexões, peço que leiam as seguintes páginas do mangá de One Punch Man, onde Saitama fala sobre como é ser extremamente poderoso. 



(Para quem não sabe, essa é a ordem correta para a leitura de mangás)


A partir dessa declaração, podemos notar que o poder inibe a emoção. No caso de Saitama, ele aprimorou-se tanto na arte do combate que tornou-se não somente invencível, mas também poderoso o suficiente para não precisar fazer uso de todo o seu poder. Não tendo que doar-se por completo no campo de batalha em busca da vitória, esvaiu-se o prazer de lutar. Essa situação me leva a pensar: de que serve a perfeição, se não para que a busquemos incessantemente, sem nunca realmente atingi-la? As forças inigualáveis do herói se fazem inúteis diante de inimigos tão fracos, e dessa forma não é necessário esforço algum. Sem esforço, sem risco, sem o imprevisível, morre também o deleite em prosseguir. Ser um exímio lutador não ultrapassa o gosto de poder superar um obstáculo com fervor, superando assim a si mesmo.
Ainda que anestesiado emocionalmente durante uma batalha, Saitama não deixa de ter sentimentos e atitudes humanas, e está sempre exposto ao erro. Acho que serve como um aviso: um humano é sempre um humano, por mais que se aperfeiçoe (em outras palavras: você pode ser incrível o que for, vai sempre fazer merda). 
Nosso grande herói careca é, ainda que um tanto indiferente, um jovem virtuoso. Como dito no mangá, a justiça o satisfaz, e o heroísmo em anonimato não é visto como problema por ele. Ele não faz o que faz para agradar ninguém. Por outro lado, a grande maioria dos heróis registrados se mostra interessada na aprovação popular, dando a falsa impressão de pensarem no bem-estar do próximo mais do que Saitama, que age pelo bem-estar próprio. Ou seja, Saitama se satisfaz com a justiça, mesmo que para isso deva ignorar a aprovação ou não popular, enquanto os demais se satisfazem com a aprovação popular, nem que para alcançá-la devam usar de meios injustos. Quem é o verdadeiro egoísta nessa história, afinal?

 Laryssa
P.S. comentários sempre abertos e disponíveis para mais reflexões <3 be free
P.S.² parece que "Laryssa" é a resposta hasuashas "Quem é o verdadeiro egoísta nessa história, afinal?/ Laryssa". Eu ia mudar, mas não. Sou egoísta mesmo...

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